quinta-feira, 30 de maio de 2013

Café 24 Horas

Um Café 24h tem algo que não sei dizer.
De onde vem a atração, a tara? Esse vício me conduzindo por ruas, avenidas, calçadas e lixo?

Faz sentir comichões, inventa necessidades.

E quando tua vida te acorda - naquela hora em que a madrugada já não sabe se é ou se era - só pra te lembrar que já tens vinte e tantos anos e uma velhice ranzinza te aguardando, lá está o lugar: luz de neon, atendentes cansados, mesas sujas, manchas de desesperança. Lá está ele em vinte e quatro sedutoras horas.


Lá está para o tédio e para a solidão.

Mas você se convence mentindo que é bom começar o dia de madrugada.

Começar quando ele é só um projeto, um azul tão profundo e misterioso entre prédios.
Gostinho do tempo fora da agenda e dos compromissos.

Testemunhar aquela hora única e traiçoeira (não foi nela em que um amigo seu se perdeu? ou havia sido você mesmo?).

Hora em que o cantinho suicida da alma não sabe se voa ou se fica, porque até o niilismo pode ser um ninho quente, afinal – e faz tanto frio lá fora.

Ainda assim, uma vaga ideia geral te contamina.

Vem dos taxistas mal humorados, dos jovens de fim de noite, das prostitutas meninas, dos sonâmbulos de tantos anos; vem de toda essa gente amante (ou seria refém?) dos lugares vinte e quatro horas, e que se permitem pensar que hoje pode não haver um dia: ir direto para a noite, a maior delas. E que se houver um dia, no final, no desespero ou no vazio – que diferença faz? - a tua mesa estará livre, esperando por ti e por todo aquele resto que te persegue.

É esse o chame dum Café 24h?

Desconfio desse excesso de verbos e adjetivos, as verdades sempre são menos.

Talvez uma vontade inconsciente e consumista de ser um pouco nova iorquino, só enquanto durar uma xícara de qualquer coisa quente e o sono teimar em fugir.