domingo, 17 de janeiro de 2010

Filmes #3 - Remédio? Filmes

Sempre fui um amante da solidão. Sim, solidão: ficar só, fazer o que bem entender quando quiser e do jeito que achar melhor. Autonomia solitária, um tanto egoísta admito. Mas a vida prega pequenas peças: ficar só na capital, no meio de quase dois milhões de pessoas é poesia - e sempre tem algo 24 horas para o consolo -, enquanto que ficar só numa cidade do interior é realmente ficar só, um contraste triste na paisagem bucólica e comunitária.

Surpreendido por essa descoberta que agora me parece óbvia, peguei alguns filmes para matar o tempo de férias na casa de meus pais que por alguns dias é só minha.

Começando com O Visitante (2007), peguei sem nenhuma indicação, um método quase sortido, atraído somente pela sinopse: um professor universitário pra lá da meia idade, solitário e aborrecido, encontra pessoas estranhas morando em seu apartamento.

Mas o que poderia parecer um treco meio surreal, talvez ficção, mostrou-se um drama válido. No decorrer do filme o tal professor vai alcançando uma espécie de redenção ao sair do automatismo vazio de sua vida acadêmica de livros, aulas e conferências, enquanto tem sua vida entrelaçada àquelas pessoas esquisitas que estavam no seu apartamento – que na verdade eram imigrantes ilegais, o que constrói o pano de fundo político do filme: as sacanagens e certas ironias no trato dos imigrantes na terra do Tio Sam.

Não obstante cada um veja nos filmes o que mais lhe apetece, achei o despertar do personagem principal um tanto construtivo, uma quase lição de moral que faz a gente pensar, o que valeu a locação. Sem muitas surpresas, mas bom.



Depois veio Persépolis (2007), mais uma animação para mostrar que desenho não é necessariamente coisa de criança. Baseado em uma autobiografia, mostra uma garotinha iraniana crescendo durante os momentos turbulentos de seu país, a saber, ditadura, revolução, mais ditadura, e guerra.

Além de servir como um bom jeito de saber mais do lado humano de uma situação histórica que, pelo menos para a minha ignorância, parece um tanto insípida, é uma agradável sessão pipoca. Mistura bem os conflitos pessoais de uma garota adolescente com os conflitos políticos de quem não pode se furtar de viver as questões políticas de seu lugar.

Ah, mas tem umas tiradas de humor sutis que valem a pena, que tiram um possível peso excessivamente desagradável de filmes que tratam de guerras e derivados.

Por fim, fechei com A Onda (2008), um ótimo filme. Baseado em fatos reais, mas um tanto ficcionado – existe isso? - para explorar melhor a idéia, conta a história de um experimento político muito foda.

Durante suas aulas de ciências política, um professor resolve demonstrar a seus alunos como o fascismo ainda pode existir; meio que sem querer, mas também se deixando levar pela situação inusitada, desenvolve em seus pupilos parte do pensamento característico de regimes fascistas – liderança, união, uniformização, distinção e repulsão contra algum inimigo determinado -, e então está criada A Onda. A experiência é feita com objetivos nobres e pedagógicos, mas a coisa desanda e acaba fugindo do controle.

A história do filme acontece na Alemanha, o que reforça a lição do filme. Que lição? Ditaduras e fascismos acontecem e se repetem por que são coisas sedutoras, latentes, que mesmo apoiadas em intenções boas – para alguém há de ser, né? - ou visando trazer alguns resultados construtivos, facilmente saem do rumo e se transformam em nazismos da vida. E o pior: ditadores fascistas não se vêem como ditadores fascistas.

É isso, e sobrevivi ao final de semana.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Pierogi com sociologia

Em casa de polaco, domingo é dia de pierogi.

Pai, mãe e filho em torno da mesa, cada qual contribuindo de algum modo para sair o almoço. Contribuição essa que os velhos barbudinhos da sociologia teriam algo a falar.

Supostamente a divisão do trabalho social gera solidariedade, é fonte de coesão social. (Durkheim de certo modo tinha boa fé na pessoas). Ou seja, de algum modo seriamos uma família mais unida pelo simples fato de meu pai girar o cilindro com a massa, minha mãe recortar e rechear os pierogis, enquanto eu fecho os ditos cujos. A vantagem produtiva nem chegaria perto da vantagem moral que tal divisão de atividades traria... o que creio não ser verdade frente a inevitável discussão familiar pré-almoço de domingo, que é pra lá de tradicional.

Ou então esse modo de produção de pierogis seria sacanagem, alienação, burgueses contra proletários (Marx de certo modo era simplista assim). Exploração do homem pelo homem, subordinação do trabalhador manual ao dono da fábrica, ao vil detentor do maquinário e do poder político. Talvez fosse eu o proletário posto que era o cargo mais baixo - fechador de pieroguis -, enquanto meu pai fosse o burguês malvado que detém os meios de produção – lembre-mos que o cilindro da massa é dele, tal qual o poder decisório. E minha mãe? Bem... marxismo tem problemas em explicar o que existe no meio de burgueses e proletários.

Mas hoje é dia de pierogi, chega de divagações sociológicas pífias e tortas.