sexta-feira, 15 de julho de 2011

Dia Mundial do Rock: legendas, amigos e música.

Que o bom senso me livre das divagações filosóficas vazias e das generalizações sociológicas tortas, mas digo que as pessoas não mudam, o que muda são os rótulos que colocamos nelas. As legendas, digamos as traduções. Coisinhas recortadas, fragmentadas, várias, um tanto transitórias, não-fixas - e por aí vai, pós-modernidade afora – que nos trazem alguém à memória. 

Hoje você acorda, acontece algo significante, e subitamente está atualizando todas as legendas. Upgrade realizado aos poucos.

Anteontem(13) acordei, era Dia Mundial do Rock, e as legendas começaram a coçar-se aqui por debaixo, doidinhas para sair.

Meus irmãos são Ultraje a Rigor e Guns N'Roses. Mas também um bom tanto de Raul Seixas, que não foram poucas as fitas do rockeiro baiano estragadas de tanto serem usadas – e lá se vai outra fita cassete...

Elvis vem denunciando minha mãe. Era um ritual seu escutar o Rei: o vinil sob a agulha fazendo ecoar pela casa inteira aquele vozeirão carregado.

Uma fita velha e gasta, batida a coitinhadinha, surgiu um dia no porta-luvas do carro: Bee Gees. Pertencia a meu pai e ao lendário tempo que não vivi, quando ele dirigia um Opala alaranjado-queimado e tinha os cabelos batendo no ombro.

Já na escola, estudei com uma garota alucinada, enérgica; às vezes, difícil de acompanhar. Simpática, claro, mas seus adjetivos pediam certos eufemismos... E ela vivia falando dum tal Eduardo duma tal música duma tal banda chamada Legião Urbana. E vivia apaixonada a priori por todo e qualquer cidadão chamado Eduardo. E eu vivia com inveja por não ter o nome de Eduardo. Ela se mudou, a inveja se foi, mas Legião Urbana ficou.

Poucos anos depois, num arrebatamento que só tem lugar na confusa pré-adolescência, caí de amores por uma garota. Parecia tímida, recatada, toda cuidados atrás de seus óculos e cabelos sempre presos. Até que ela lançou pra mim os estridentes refrões da Cássia Eller. A Cássia morreu, a garota casou, mas os refrões... bem, o clichê está subentendido.

Mas conheci uns caras que também ganham agora uma legenda do rock.

Ensino Médio é aquele tempo da tua vida que a tua vida toda tende a já desenhar-se imutavelmente. E o desenho aconteceu com Blink 182, Foo Fighters, Franz Ferdinand e The Killers, som devidamente apresentado em tardes de tererê, madrugadões com War, e manhãs de suposto estudo - éramos nerds e não pegávamos ninguém, mas geralmente felizes, eu diria.  

Na faculdade, em uma emblemática crise existencial típica de quem abriu uns livros errados em um curso duvidoso, olho para o lado durante a aula e peço ao amigo de faculdade: ei, mê manda uma lista de músicas deprês? Fossa que é fossa só é boa com trilha sonora, claro. E o cara era músico. Guitarrista com banda e tudo. Devia ter boas sugestões. Mandou-me uma lista. Busquei toda ela. Não serei falso para dizer que gostei de tudo, mas sou meloso o suficiente para dizer que Eric Clapton confunde-se desde então com o nome desse amigo agora já não mais delimitado à faculdade.

Houve ainda outras garotas, outros caras, outros familiares. Tantas bandas. Mais histórias, mais despedidas - pois todo início pede um fim. E foram tantos, mesmo nesses parcos 24 anos de vida. Tantos rocks... O disco gira e a agulha vai dum lado para outro, incansável. 

As pessoas não mudam, o que muda são as legendas que damos a elas. E nesse Dia Mundial do Rock consegui perceber que houve quem passou pela minha vida e deixou um tantinho de rock lá; legendas ricas, rótulos gostosos de se procurar.

Um presente desses que a gente curte com o passar dos anos, sempre e sempre, ao alcance do play.

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