Uma da verdades do mundo do trabalho é que às vezes é difícil de encará-lo. Algo que vai além da preguiçosa segunda-feira pela manhã e da tarde chuvosa que pede por café e pipoca. É, então, uma dificuldade em assumir que aquilo, aquelas horas todas do seu dia, não são suas. Simples assim.
E para piorar, sempre nos cremos merecedores de mais. Nos deixamos levar pela vaidade de um diploma, dum elogio, duma vocação que um dia alguém, talvez você mesmo, te inventou. O resultado é um comichão incômodo te lembrando dos sonhos de outrora, dos tantos planos, e de que nenhum deles te levava até aqui.
Aí é duro encarar o trabalho; aí bate a inveja de uns poucos sortudos que podem dizer que não estão nos seus trabalhos por dinheiro.
Tenho lá minha fé; não muito aflorada, é verdade, mas um tanto encorajada com certas leituras budistas feitas nestes últimos meses. E numas dessas leituras tropecei aqui:
“A atitude yóguica em relação ao trabalho é, pois, aquela de desapego absoluto, de não fazer nenhuma escolha, mas de aceitar e fazer qualquer coisa que lhe seja dada, qualquer coisa que lhe venha no curso normal de sua vida e de fazê-la com máxima perfeição possível. É desta maneira, e apenas assim, que todo trabalho se torna extremamente interessante e toda vida um milagre de deleite.” Nolini Kanta Gupta
Tirando a sempre suspeita resignação oriental típica do budismo, o trecho foi um achado, e permite uma licença de amplo otimismo – o copo pode estar meio cheio, certo?
É incrível como a vida muda quando encarada da perspectiva do 'curso normal', ainda mais se acompanhada duma franca tentativa de 'máxima perfeição possível'. A rotina não é rotina, é oportunidade. Não existe repetição, existe treinamento. E no fim, não há tédio, há aperfeiçoamento.
Se somos todos viajantes por aqui, o melhor pode ser esquecer da chegada e focar-se no trajeto em si. O prazer de viajar. Somente a perfeição(insistente) de cada dia.
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