terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Deus

E se tudo for Nada?

E se o tempo for só quimera,
piada dum poeta?
Passado e Futuro unidos assim,
só o agora, o Presente sem fim?

Só.

E se a terra for estática,
besta, pura repetição?
Sem porque da vida
senão o porque da morte?

Eu passo e você também.
Aqui no chão é só vento
da imaginação e nós,
os filhos sem céu.

E se for?

E se essa multidão que corre,
trabalha e reza for indiferente?
Corpo indigente que jaz na valeta
de um cosmos em pulsação?

Sim, isso e só.
E se tudo for Nada?
E se?
E se...

O universo balbucia, apático,
O silêncio do acaso.
Eu, centelha descontente,
Tapo os ouvidos.


César Bueno Franco

2 comentários:

  1. Se não houver nada além da imanência, então passamos por bobos ao crermos na transcendência. Mas, se não haverá ninguém a nos cobrar, que mal há em ser bobo? Viva-se.

    Por outro lado, se houver algo próprio da transcendência, então passamos por bobos por não tê-lo identificado. Nesse caso, há quem nos cobre e nos diga: - Bobos! Ou ainda: - Hereges!

    Então por que não? Por que não sublimar a repulsa que você sente por Deus com uma espécie de convivência freudiana com Ele?

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  2. É meio paradoxal, mas admito que minha dúvida quanto a Deus e todo o resto não é diferente de qualquer fé.

    Ou seja, não há provas senão evidências, e sempre chega-se ao momento em que é dito 'foi assim e ponto final'. Seja no Eden ou no Big Bang.

    Por isso, assim como dificilmente um ateu convenceria pela razão um crente a não mais ser crente, também descarto qualquer lógica da razão - mesmo com ares oportunistas ou psicanaliticos - como fonte última para passar a acreditar ou dar abertura à crença.

    Quero dizer que não crer é tipo um feeling extremamente subjetivo, pelo menos no meu caso.

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