O nome do texto é “A soja está fazendo crianças gays”. Nele, seu autor – o pastor norte-americano James Rutz – defende que o consumo de tal leguminosa provoca homossexualidade.
É, pois é.
É, pois é.
Bem, poderia ser um ótimo conto de ficção com um fundo humorístico... Só que pretende ser sério e, pior, científico.
O raciocínio do pastor é simples: soja contém estrogênio, estrogênio é hormônio feminino, logo, consumir hormônio feminino transforma o homem num menos homem, e daí vem a inevitável homossexualidade.
E o cara é bizarramente categórico. Diz ele que se você é homem e consome soja, “está suprimindo sua masculinidade” e trazendo à tona a feminilidade “tanto física quanto mentalmente”.
Mas tudo pode piorar; lembremos que a soja tem o borogodó que todo médico recomenda. Produtos de soja é o que não falta no mercado e na mesa de muitas pessoas. Nem os bebês – pobres bebês! - escapam da nutrição à base de soja.
Daí o diagnóstico pessimista do pastor: um aumento gritante nos casos de homossexualismo. Coitadinhas as crianças de hoje em dia! Tem sua masculinidade furtada nutricionalmente, sugere o pastor.
Daí o diagnóstico pessimista do pastor: um aumento gritante nos casos de homossexualismo. Coitadinhas as crianças de hoje em dia! Tem sua masculinidade furtada nutricionalmente, sugere o pastor.
No meio de tanto conservadorismo não poderia faltar, claro, a cereja do bolo: “a homossexualidade é sempre um desvio sexual”.
Outras coisas assustam durante o texto, mas vou ao básico. O seu pior é a formula de convencimento: seus argumentos secundários são amparados pela ciência, mas o argumento principal é uma extensão falsa daqueles argumentos secundários. Elabora, pois, uma grande falácia.
Quer dizer... óbvio que o estrogênio contido na soja pode fazer mal ao organismo. O debate médico em torno dessa possibilidade é consistente. Efeitos incomuns resultantes de um desequilíbrio hormonal graças ao estrogênio parecem existir – má formação genital masculina, por exemplo, é o que sugerem algumas pesquisas.
Mas partir disso para afirmar que o desejo do cidadão vai se voltar para outros homens, é uma grande bobagem. Desejos não se resumem a hormônios, muito menos quando o assunto é o alvo desses desejos.
Pior ainda é dizer que a soja é feminilizadora, e por consequência desconstrutora da masculinidade. Um olhar atento à realidade demonstra como essas duas categorias – feminino e masculino – são essencialmente sociais e prenhes dos mais intrincados valores culturais.
Aí aparece um pastor afirmando que é a soja que manufatura a homossexualidade!
Enfim, como nada é tão ruim que não possa trazer algo de bom, depois desse texto fui ler mais a respeito da soja. E é realmente curioso como as pesquisas vêm demonstrando que a soja é muito mais perigosa do que nos dizem os manuais de boa alimentação. Um perigo que vai desde câncer até problemas de crescimento - claro que essas pesquisas sérias não mencionam nada sobre um inapelável destino homossexual de quem consome soja.
E por que continuam dizendo que soja é tudo de bom? Ora, tudo faz parte do maquiavélico mercado mundial que não quer perder seus lucros com a produção do grão.
Quase uma teoria da conspiração, fato. Mas bem mais plausível do que a teoria do pastor.