Depois de uma semana morando numa cidade de pouco mais de dez mil habitantes – dentre os quais a grande parte vive no campo – a gente se vê às voltas com os inevitáveis clichês sobre as cidades pequenas.
Todos conhecem todos... Todos cumprimentam a todos... A cidade dorme às dez da noite, sem atraso... E as ruas não tem nomes, somente indeléveis pontos de referência: o banco, a praça, a lojinha de fulana, a mercearia de ciclano, etc.
Mas isso, descobri eu, não fala sobre uma cidade pequena. Pelo menos não da essência e da graça das cidades pequenas.
O quê denuncia a cidade pequena em sua essência é um garoto ter um cachorro chamado Pirulito. E Pirulito é amarelo, pequeno, manco da pata direita traseira, e dono de um inflexível rabo em anzol... E tem aquela cara que alterna entre a travessura e culpa. Praticamente impossível que algum cão nesse universo tenha mais cara de vira-latas do que ele. E Pirulito, apesar de manco, corre todo faceiro e abanante quando o dono dá dois tapinhas na coxa e chama: Vem, Pirulito, vem! E Pirulito vai, de olhinhos felizes e orelhas murchas em contentamento, dono em absoluto da rua sem carros.
Assim descarto todos os clichês sobre cidades pequenas. Fico só com o Pirulito e sua corrida em três patas.
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