domingo, 22 de setembro de 2013

Chuva suicida

O dia é cinza, o frio é íntimo, e a chuva não para.
São incontáveis as gotas suicidas, baques secos contra telhados, janelas e meus planos. Toda essa água espatifada, corpos rolando sem saber pra onde.

E eu penso em cigarros, bebidas, no chocolate que só como na páscoa. Viro refém das promessas fáceis. Mas hoje eu sinto e não, não é isso.

E de longe vem a ideia (besta, eu sei) de ressuscitar um amor daquelas fotos amareladas, ou fazer uma paixão frankstein dos pedacinhos românticos que perdi nos versos. Ressuscitar sentimentos e sentir que sou eu que vivo.

Mas, e seria isso?


Mais gotas dão o salto, pancadas rítmicas duma infelicidade tão fluida.
E toda essa água nesse cinza total escorrendo sem direção; por todos os lugares, para lugar algum,
sem saber nunca para onde está indo. Toda essa água desde as alturas também duvidando: e seria isso?



quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Estamos em obras

A placa tinha um silêncio orgulhoso, só conversava com os olhos:

Estamos em obras, dizia. 

Parecia justificar o atraso, a ausência, a incompletude manifesta. Ou talvez se eximisse pelo pó, pelas vísceras de concreto expostas, pela inutilidade que formalizava. 

Mas eu sabia da verdade da placa, daquelas palavras ali pintadas. E sabia que tudo era muito simples...

Sim, claro, estamos em obras.