O curso de Ciências Sociais molda nossas perspectivas em uma direção muito clara: a interpretação do mundo pelo viés social. Aprendemos a usar e abusar dos argumentos relativos, culturais e contextuais. Adoramos traçar as estruturas históricas por detrás de cada ato, fato ou padrão comportamental. Ressaltamos sempre como a sociedade forma e deforma homens, mulheres e crianças. Tentamos evidenciar que o que existem na maioria dos casos são papéis sociais construídos, legitimados e excluídos por algum tipo relação de poder. E por aí vai.
Isso é bom, é útil, é empolgante. Encarar as coisas como transitórias e não como verdades absolutas caminhando para a eternidade é uma atitude timidamente revolucionária. É crer no diferente e na transformação. Possibilita ações planejadas rumo a um determinado fim – que esperamos ser um fim que tome como prioridade o bem coletivo.
Mas essa perspectiva tão social tem seus percalços.
Me faço de exemplo: não creio em nenhum deus ou motivação divina, mas acredito fielmente que o social – no seu sentido mais amplo - pode explicar tudo, inclusive as próprias explicações que usam de deus e causas divinas.
Só que o problema pode começar justamente quando, sentado sobre o topo da sociedade enquanto argumento último, eu olho para baixo e vejo as outras coisas como mero fenômeno cultural; às vezes alienação, às vezes mecanismo de dominação, às vezes ainda por determinar o que é, mas certo de que nunca será algo que fuja do social como causa.
Isso, além de arrogância, parece uma contradição que surge fundada na própria atividade científica, pois não é novidade conceber a ciência como um poço ao qual nunca vemos o fundo, já que o plausível hoje amanhã pode ser motivo de risos – exemplo bobo, forçado e categórico, é o do terra plana -, e que quando vemos o fundo podemos apenas estar vislumbrando a ilusão de uma vontade.
Assim, delegar a explicação última na sociedade pode ser incorporar justamente o que tanto se criticou e ainda se critica, por exemplo, na religião: um discurso dogmático cego a qualquer contradição, seja interna ou externa. É recusar a ver que a ciência, e talvez principalmente a ciência social, tem tantas hipóteses, teorias e meias verdades quanto outros sistemas de conhecimento e interpretação do mundo.
Acredito mesmo, com toda minha consciência, na causa social como maior explicação possível e viável das coisas. Mas é somente isso: uma explicação possível e viável. E no campo do possível e do viável, há muitas outras explicações. Logo, a atitude mais correta pode ser não a busca da verdade prometida que ninguém sabe se existe, porém a busca do enfrentamento dos limites de cada perspectiva interpretativa, encarando um debate construtivo onde diversas explicações possam conversar.
Não basta trocar o deus lá de cima pelo deus-sociedade; pelo menos não em nome do que gostamos de chamar de ciência.
Isso é bom, é útil, é empolgante. Encarar as coisas como transitórias e não como verdades absolutas caminhando para a eternidade é uma atitude timidamente revolucionária. É crer no diferente e na transformação. Possibilita ações planejadas rumo a um determinado fim – que esperamos ser um fim que tome como prioridade o bem coletivo.
Mas essa perspectiva tão social tem seus percalços.
Me faço de exemplo: não creio em nenhum deus ou motivação divina, mas acredito fielmente que o social – no seu sentido mais amplo - pode explicar tudo, inclusive as próprias explicações que usam de deus e causas divinas.
Só que o problema pode começar justamente quando, sentado sobre o topo da sociedade enquanto argumento último, eu olho para baixo e vejo as outras coisas como mero fenômeno cultural; às vezes alienação, às vezes mecanismo de dominação, às vezes ainda por determinar o que é, mas certo de que nunca será algo que fuja do social como causa.
Isso, além de arrogância, parece uma contradição que surge fundada na própria atividade científica, pois não é novidade conceber a ciência como um poço ao qual nunca vemos o fundo, já que o plausível hoje amanhã pode ser motivo de risos – exemplo bobo, forçado e categórico, é o do terra plana -, e que quando vemos o fundo podemos apenas estar vislumbrando a ilusão de uma vontade.
Assim, delegar a explicação última na sociedade pode ser incorporar justamente o que tanto se criticou e ainda se critica, por exemplo, na religião: um discurso dogmático cego a qualquer contradição, seja interna ou externa. É recusar a ver que a ciência, e talvez principalmente a ciência social, tem tantas hipóteses, teorias e meias verdades quanto outros sistemas de conhecimento e interpretação do mundo.
Acredito mesmo, com toda minha consciência, na causa social como maior explicação possível e viável das coisas. Mas é somente isso: uma explicação possível e viável. E no campo do possível e do viável, há muitas outras explicações. Logo, a atitude mais correta pode ser não a busca da verdade prometida que ninguém sabe se existe, porém a busca do enfrentamento dos limites de cada perspectiva interpretativa, encarando um debate construtivo onde diversas explicações possam conversar.
Não basta trocar o deus lá de cima pelo deus-sociedade; pelo menos não em nome do que gostamos de chamar de ciência.
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