E saiu mais uma reportagem sobre as pulseiras do sexo, dessa vez no Estado de São Paulo desse domingo. Aparentemente, nas escolas quase tão ruim quanto à gripe suína só mesmo as pulseirinhas.
Desde que ouvi falar disso, no final do ano passado, aderi à opinião de que todo o bafafá em cima do caso é porque os pais não suportam saber que seus filhos e filhas tem noção do que é sexo – em suas diversas modalidades e níveis – e, pior, em seguida quase morrem por saber que eles até se arriscam a praticá-lo de alguma forma. Claro que é potencialmente problemático o fato de adolescentes ou quase-adolescentes saírem por aí com brincadeiras maliciosas ligeiramente irresponsáveis, mas o medo dos pais frente ao sexo dos filhos é sempre descabido.
Podiam nascer filhos com preservativos embutidos e estéreis até os 25 anos que ainda assim pais e professores ficariam horrorizados com as pulseiras coloridas e libertinas.
Aí o que o medo não engloba, a eterna estupidificação dos jovens cai matando. O que a mídia dá a entender é que se você estiver usando uma pulseira preta e outra pessoa arrebentar ela, você vai mecanicamente ceder seu sexo. Ou então uma segunda possibilidade: se você não souber da história das pulseirinhas e alguém a arrebentar, a pessoa que arrebentou vai te explicar como funciona, você vai dizer ‘aaah tá’, e aí sim vai ceder teu sexo. Em suma, qualquer adolescente teria mais compromisso com o significado de uma pulseira em seu braço do que propriamente com o que acha, deseja, ou pensa. Uma verdadeira tábula rasa antes de vestir a pulseirinha colorida.
Eu, na minha insignificancia, não acredito que são as pulseiras que fomentem esse comportamento sexualizado. A coisa já está lá, e se as pulseirinhas servem a esse fim, elas são exatamente isso, uma ferramenta, um meio, um instrumento. Proibir e demonizar nada adianta; qual um caso bem sucedido em que proibição ajudou a atingir o objetivo pretendido? Aliás, as pulseirinhas não devem estar desconectadas do tradicional distanciamento negativo que os pais forçam, e que as escolas ainda tratam como tabu, sobre o sexo dos jovens.
Hoje, na reportagem a que me refiro na primeira linha desta pequena manifestação subjetiva, a autora defendia ainda que as pulseiras são, em síntese, mais uma manifestação do machismo. Garotas rotuladas e de fácil acesso aos homens. E por que elas se rotulam? Por sentirem pressão do grupo sobre a virgindade e a experiência sexual, logo necessitam entrar nesse joguinho mesmo contra suas vontades.
Aí é estupidificar especialmente as mulheres como sendo particularmente alienadas, além de fazer de conta que elas, e só elas, precisam vestir um papel ditado pelo todo – pais, escola, amigos, mídia – do que é ser um jovem quanto sua sexualidade. Tanto garotas quanto garotos sofrem dessa pressão, contraditória e imperativa, logo temos um mecanismo que aje tanto nelas quanto neles.
Claro, deve mesmo ter toda uma carga simbólica, talvez machista, notável na particularidade de que a mulher é quem tem sua pulseira rompida. Igual probabilidade é a de existir mesmo a tal pressão e um certo agravo nas consequencias para a parte feminina. Mas se a análise social nos diz algo, é que dois indivíduos em interação estrategicamente tomam a ação do outro como referência, e que por mais que existam imperativos coletivos – como a pressão do grupo sobre virgindade e outras coisitas -, o sujeito sempre reage de algum modo. Ninguém é pura repetição e acatação, nem mesmo as mulheres em uma sociedade machista. Culpar um e vitimizar o outro não dá conta da situação, só inventa um bode expiatório (evidente que não estou tratando de casos de violência e derivados, pois aí a coisa muda totalmente de figura).
Se para haver uma briga precisam de dois dispostos a brigar, para brincar com as pulseirinhas do sexo a necessidade de dupla aceitação permanece, cada qual com seus motivos, problemas, reflexões, traumas e o que mais quiser, porém tem sempre um ponto de confluência que possibilitou o ato e que o machismo por si só não explica. Aliás, visões binárias de bom e mau, certo e errado, opressor e oprimido, sempre tiveram sérios limites.
Enfim, deixando a eterna polemica feminista de lado, acredito que é preciso parar de secar o gelo.
Pais, professores, escolas e a mídia deveriam se focar muito mais em atualizar o trato da sexualidade juvenil do que ficar demonizando a curiosidade e o desejo que, em parte, eles mesmo despertam e cultivam em seus filhos, alunos e consumidores, e que o jogo das pulserinhas só vem trazer à tona.
Desde que ouvi falar disso, no final do ano passado, aderi à opinião de que todo o bafafá em cima do caso é porque os pais não suportam saber que seus filhos e filhas tem noção do que é sexo – em suas diversas modalidades e níveis – e, pior, em seguida quase morrem por saber que eles até se arriscam a praticá-lo de alguma forma. Claro que é potencialmente problemático o fato de adolescentes ou quase-adolescentes saírem por aí com brincadeiras maliciosas ligeiramente irresponsáveis, mas o medo dos pais frente ao sexo dos filhos é sempre descabido.
Podiam nascer filhos com preservativos embutidos e estéreis até os 25 anos que ainda assim pais e professores ficariam horrorizados com as pulseiras coloridas e libertinas.
Aí o que o medo não engloba, a eterna estupidificação dos jovens cai matando. O que a mídia dá a entender é que se você estiver usando uma pulseira preta e outra pessoa arrebentar ela, você vai mecanicamente ceder seu sexo. Ou então uma segunda possibilidade: se você não souber da história das pulseirinhas e alguém a arrebentar, a pessoa que arrebentou vai te explicar como funciona, você vai dizer ‘aaah tá’, e aí sim vai ceder teu sexo. Em suma, qualquer adolescente teria mais compromisso com o significado de uma pulseira em seu braço do que propriamente com o que acha, deseja, ou pensa. Uma verdadeira tábula rasa antes de vestir a pulseirinha colorida.
Eu, na minha insignificancia, não acredito que são as pulseiras que fomentem esse comportamento sexualizado. A coisa já está lá, e se as pulseirinhas servem a esse fim, elas são exatamente isso, uma ferramenta, um meio, um instrumento. Proibir e demonizar nada adianta; qual um caso bem sucedido em que proibição ajudou a atingir o objetivo pretendido? Aliás, as pulseirinhas não devem estar desconectadas do tradicional distanciamento negativo que os pais forçam, e que as escolas ainda tratam como tabu, sobre o sexo dos jovens.
Hoje, na reportagem a que me refiro na primeira linha desta pequena manifestação subjetiva, a autora defendia ainda que as pulseiras são, em síntese, mais uma manifestação do machismo. Garotas rotuladas e de fácil acesso aos homens. E por que elas se rotulam? Por sentirem pressão do grupo sobre a virgindade e a experiência sexual, logo necessitam entrar nesse joguinho mesmo contra suas vontades.
Aí é estupidificar especialmente as mulheres como sendo particularmente alienadas, além de fazer de conta que elas, e só elas, precisam vestir um papel ditado pelo todo – pais, escola, amigos, mídia – do que é ser um jovem quanto sua sexualidade. Tanto garotas quanto garotos sofrem dessa pressão, contraditória e imperativa, logo temos um mecanismo que aje tanto nelas quanto neles.
Claro, deve mesmo ter toda uma carga simbólica, talvez machista, notável na particularidade de que a mulher é quem tem sua pulseira rompida. Igual probabilidade é a de existir mesmo a tal pressão e um certo agravo nas consequencias para a parte feminina. Mas se a análise social nos diz algo, é que dois indivíduos em interação estrategicamente tomam a ação do outro como referência, e que por mais que existam imperativos coletivos – como a pressão do grupo sobre virgindade e outras coisitas -, o sujeito sempre reage de algum modo. Ninguém é pura repetição e acatação, nem mesmo as mulheres em uma sociedade machista. Culpar um e vitimizar o outro não dá conta da situação, só inventa um bode expiatório (evidente que não estou tratando de casos de violência e derivados, pois aí a coisa muda totalmente de figura).
Se para haver uma briga precisam de dois dispostos a brigar, para brincar com as pulseirinhas do sexo a necessidade de dupla aceitação permanece, cada qual com seus motivos, problemas, reflexões, traumas e o que mais quiser, porém tem sempre um ponto de confluência que possibilitou o ato e que o machismo por si só não explica. Aliás, visões binárias de bom e mau, certo e errado, opressor e oprimido, sempre tiveram sérios limites.
Enfim, deixando a eterna polemica feminista de lado, acredito que é preciso parar de secar o gelo.
Pais, professores, escolas e a mídia deveriam se focar muito mais em atualizar o trato da sexualidade juvenil do que ficar demonizando a curiosidade e o desejo que, em parte, eles mesmo despertam e cultivam em seus filhos, alunos e consumidores, e que o jogo das pulserinhas só vem trazer à tona.
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