Minha primeira camiseta do Che arrancava comentários de todos os lados. Uns poucos de simpatia, a maioria de provocação. Coisas de cidade pequena, eu acho. E nada que fosse além de um 'bonita camiseta!' vago, ou então as famigeradas piadinhas típicas do ensino médio – então eu tinha 15 anos e vivia nos ambientes próprios da idade -, todas aproveitando-se da ambiguidade sonora latente de Che Guevara.
Por sua vez, um amigo, quando notou que eu insistentemente usava a camiseta do Che, como um desabafo, disse: Meu, esse cara aí saiu de moda na década de 60!
Bem, em parte. A avalanche de produtos Che diz o contrário. Como os BelduinoS bem cantaram, capitalizam o Che. Essa moda comercial, fria e consumista, nunca abandonou o guerrilheiro da nossa américa.
Seja como for, eu tinha uma paixão genuína pelo mito Che. E como toda paixão, olhada agora em retrospectiva, algumas coisas podem ser contabilizadas enquanto outras não.
Conto quatro camisetas baratas, uma boina e uma tatuagem, tímida, de henna. A contagem envolve ainda cerca de um ano e meio deixando os cabelos crescerem desgrenhosamente, e cerca de dois de boicote ideológico a tudo que era de grandes marcas, principalmente da Coca Cola... Ímpetos um tanto ingênuos, admito.
Outras já não se contam facilmente. Um senso ético bem afiado – em uma palavra, chato -, um até então inédito abrir dos olhos, e também uma suspeita opção por cursar Ciências Sociais.
Porém, ao lado da contagem, de alguma forma, quando olhada em retrospectiva, essa paixão parece apagada. A clássica imagem do Che vira apenas uma sombra que ignora o olhar altivo e inexpugnável de um dos mais importantes homens do século passado. Os textos inspiradores, as anedotas de guerrilha, os discursos inflamados, tudo perde-se em uma neblina dada pela memória que vai, aos poucos, se enchendo de outras coisas.
Mas lembro ainda do meu amigo dizendo que o Che saiu de moda.
E sei que em parte ele saiu mesmo. Mas essa parte que saiu, essa parte que não diz respeito à avalanche de produtos Che; essa parte realmente fantasiosa é aquela que no alto de sua retirada forçada nos faz exclamar, ante sua ausência, um profundo que pena. É um desencantamento a mais.
massa massa, não sei pq manteve esse blog oculto dos olhos do grande publico. Enfim, já esta descoberto!
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