terça-feira, 21 de junho de 2016

Jogador nº 1 - Ernest Cline

Cinco estranhos e uma coisa em comum: a caça ao tesouro. Achar as pistas nesta guerra definirá o destino da humanidade. Em um futuro não muito distante, as pessoas abriram mão da vida real para viver em uma plataforma chamada Oasis. Neste mundo distópico, pistas são deixadas pelo criador do programa e quem achá-las herdará toda a sua fortuna. Como a maior parte da humanidade, o jovem Wade Watts escapa de sua miséria em Oasis. Mas ter achado a primeira pista para o tesouro deixou sua vida bastante complicada. De repente, parece que o mundo inteiro acompanha seus passos, e outros competidores se juntam à caçada. Só ele sabe onde encontrar as outras pistas: filmes, séries e músicas de uma época que o mundo era um bom lugar para viver. Para Wade, o que resta é vencer – pois esta é a única chance de sobrevivência.


Eis a sinopse de Jogador Número 1, livro de 2011 escrito pelo americano Ernest Cline e que, conforme planos (tomara!), pode virar filme pela mãos de Steven Spielberg. 




Resumidamente, o livro tem um enredo que mistura jogos, ficção científica e pequenos dramas de adolescente. A escrita, por sua vez, é rápida, em ritmo de aventura e moderna, fluindo tão bem que é difícil sentir-se entediado. Ok, mas e isso justifica a leitura? 

Quer dizer, vale a pena ler Jogador Nº 1?


A história é uma grande e divertida homenagem à cultura nerd. Jogos, filmes, animes e músicas, tudo isso agradavelmente misturado num um prato cheio de referências que vai te levar a alguns gigas de downloads - separe papel e caneta para anotar todas as referências, sério.


Mas o livro não é apenas uma masturbação aos nerds de plantão. De maneira sutil e leve, a trama trabalha questões que estão na ordem dos nossos dias, como a privacidade na internet, o poder das grandes empresas e o comportamento potencialmente problemático e isolacionista das pessoas quando imersas num mundo de amplo acesso à internet e seus mundos online (quem nunca deu uma escapada da realidade através dos MMORPG's da vida, né?).

Acredito que aí está um grande mérito do livro: pontua questões muito complicadas, mas sem sacrificar a diversão da leitura, que é sempre envolvente e movimentada.


Arte conceitual do futuro em Jogador Nº 1



É também nessa toada que o livro faz por merecer o rótulo de ficção científica. Seu cenário é futurista e apocalíptico, no melhor estilo distópico. Fome mundial, clima zoado, economias desestabilizadas, a pobreza que se alastra feito um câncer, as pessoas que preferem fugir para um mundo de fantasia em vez de consertar o mundo concreto. O autor conseguiu pegar aquela grande homenagem ao universo nerd e colocá-la dentro de um contexto apocalíptico muito bacana e razoavelmente crítico.


Contudo, o livro tem um pequeno problema: ele é voltado a um público bem determinado.

Outra arte conceitual, e referência ao clássico dos arcades, Joust.

A começar com o fato de que ele gira muito em torno da cultura pop/nerd dos anos 80. Isto é, o livro tem um apelo imediato à galerinha que nasceu nessa década - os rebentos do final dos anos 90 e início dos 2000 podem não pegar o feeling nostálgico de todas as referências feitas em Jogador Nº 1. Jogos antigos e bandas que marcaram a década são citados a todo instante. 



E além do corte de idade, há outro corte que limita o público: é um livro para nerds. É, se você não for minimamente nerd, você vai boiar e deixar passar o feeling não apenas nostálgico como também experimental - do tipo 'ei, eu sei do que esse cara tá falando porque eu já passei por isso!'. Quer dizer, se você não for minimamente nerd, você perde as referências e vai te faltar uma, digamos, sensibilidade para com a história e seu protagonista. 


Afinal, como entender a paixão intensa que o protagonista nutre por uma garota que nunca viu pessoalmente? Como compreender sua profunda amizade com pessoas com quem nunca conversou cara a cara? São coisas que um leitor não-nerd pode deixar passar batido, assim como a empolgação pelas partes de ação do livro, que só quem já se envolveu em épicas batalhas nos MMORPGs da vida vai conseguir captar integralmente - spoiler irrelevante: só um nerd para sentir a emoção de uma batalha que junta todos os grandes mechas de animes e tokusatsus.


O autor até se preocupa em explicar o básico do universo nerd oitentista cibernético. Acertadamente, ele define bem e explica muitas das coisas citadas, e faz isso com leveza, tipo um ensinar sem dar bandeira. No entanto, é flagrante que o grande charme do livro é a maneira como consegue incorporar numa história vários elementos nerds, e para curtir isso 100% só mesmo quem já tem uma longa convivência com aquele universo oitentista cibernético. 


Enfim, é um livro para nerds, talvez até mais do que para fãs de ficção científica. E especialmente para nerds da velha escola, que sabem quão sobre-humano é tentar zerar com uma só ficha um game de arcade.



Sim, vale à pena ler Jogador Nº 1Aliás, se você tiver um amigo nerd aí na casa dos 25-35 anos, acredite, com esse livro é difícil errar o presente. Contudo, é preciso estar ciente de que a degustação da obra é maior quanto mais desenvolvido for o lado nerd do leitor.

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