Já há mil anos desde que Gauna, uma estranha raça alienígena sem um modo conhecido de comunicação, destruiu o sistema solar. Uma porção da humanidade conseguiu fugir usando enormes "naves-semente" como o Sidonia, que permitiram manter a população salva no espaço. Nagate Tanizake é um jovem que cresceu nos porões dessa nave. Quando ele começa a treinar para pilotar enormes robôs conhecidos como Gardes, Nagate é instruído a pilotar uma unidade lendária chamada Tsugumori. Nagate e seus companheiros colocam suas vidas contra os Gauna, em uma batalha pela sobrevivência da humanidade!
E é essa a descrição de Knights of Sidonia, o primeiro anime exclusivo da Netflix, e que como tantos outros animes é baseado em um mangá.
Encantado pela descrição, qualquer amante da ficção científica sente-se tentado a assistir - robôs, espaço, raça alienígena, a humanidade em xeque-mate... precisa mais do que isso?
Tá certo, mas e vale a pena assistir Knights of Sidonia?
Talvez você seja mais ou menos como eu: tenha aí seus quase 30 anos, não assistiu a muitos animes nessa vida louca mas já assistiu aos clássicos elementares. E se for como eu, você provavelmente vai se decepcionar com Knights of Sidonia.
Na verdade, ele até poderia ter sido um ótimo anime, porém acovardou-se e se contentou em ser apenas bom (ou quase bom, a depender do seu humor e paciência).
Seu começo é bem bacana. A raça humana à deriva no espaço, criaturas misteriosas e com motivação desconhecida, adolescentes que pilotam grandes robôs... Dá ares de um repeteco malandro dum Evangelion da vida, mas ainda assim a história convence e agrada. Mérito em particular para alguns detalhes, como a inventiva arquitetura da nave onde vivem os humanos ou então o lance deles agora realizarem fotossíntese - como sabemos, são pequenos detalhes assim que envolvem a gente e tornam as ficções científicas mais críveis.
É um anime com ritmo de ação e portanto precisava de batalhas bem feitas, e nisso o anime não deixa a desejar. A movimentação de ataque, defesa e esquiva são detalhados e realmente percebemos uma luta acontecendo, muito graças a ótima qualidade da animação. Assim, os embates entre robôs e os gaunas, os vilões da história, conseguem sim causar empolgação, criar clímax e divertir o espectador.
Só que o primeiro problema do anime acontece aí: parece que decidiram colocar tanto capricho nas lutas, que quando chegou na hora do design dos personagens e robôs o estoque de capricho já estava lá embaixo e então empurraram tudo com a barriga.
O resultado são personagens muito, mas muito semelhantes. Dá a impressão de terem usado um desses criadores de avatar eletrônicos e randômicos em que você escolhe entre uma combinação do tipo de olhos, cabelo e formato do rosto, e aí, no segundo avatar você só altera o tipo de olho; no terceiro, só o formato do rosto; no quarto, só a cor do cabelo... E por aí vai, com mudanças preguiçosamente sutis e dentro de um limitado repertório de opções.
Já os robôs, para frustração dos fãs de mecha mais detalhistas, é a produção em larga escala de um único modelo.
Mas o grande problema do anime, o seu colossal deslize que o fez ser um bom anime de ficção científica - e não um ótimo anime de ficção científica-, foi a virada para a segunda temporada.
Lá na primeira, o anime começou dando a entender que seria mais, digamos, adulto.
Crueldade, brutalidade, cenas gore, adolescentes morrendo feito moscas e uma trama cheia de mistérios e pré-explicações que insinuavam futuras revelações duma história cheia de complexidades filosóficas - de novo, meio que um repeteco malandro de Evangelion, mas digno porque pegaria dele as suas qualidades.
Primeira temporada: sombras e mistérios. |
Parecia, enfim, que Knights of Sidonia seria um anime com personalidade e distinção...
Só que não. A segunda temporada foi a invocação de tudo o que há de clichê num anime.
Ok, vá lá. É preciso considerar que por ser o primeiro anime exclusivo da Netflix foi preciso trazer algo mais ao sabor comum, sem muitas peripécias ou revoluções em termos de animação japonesa. Afinal, se trouxesse algo todo diferentão poderia ser um fracasso ou mesmo não atrair o público de nicho que os animes costumam atrair.
Mas, gente, é muito clichê num anime só - e o pior, justo quando a primeira temporada prometia algo bem diferente.
Segunda temporada: garotas nuas. |
Cenas semi-hentai, triângulos amorosos, comédia romântica, e fillers, muitos fillers (quase os 5 minutos que Namekusei levou para explodir).
Aí que enquanto coisas muito interessantes aconteciam, os episódios passaram a se focar não nessas coisas interessantes, mas em fazer o protagonista pegar um peito aqui, ver um nude ali, ou dar de cara numa bunda acolá.
Até mesmo o romance que surge ficou parecendo uma grande enrolação para não ter que explicar as coisas relevantes - talvez uma tentativa de pescar o espectador para uma terceira temporada.
Simplificando a pequena tragédia: a primeira temporada prometeu, só que a segunda deu pra trás vergonhosamente.
Se você é aficionado por de ficção científica e robôs, sim, vale assistir Knights of Sidonia. A história tem seus lampejos de criatividade e o anime em si é bem produzido, contando com boas músicas e belas imagens.
Entretanto, está longe de ser um anime que agrada quem quer uma história mais robusta ou mais original. A verdade frustrante é que o anime fica perigosamente próximo das comédias românticas, e uma daquelas que otakus mais antigos podem estar já meio saturados: o velhão estilo do protagonista tapado e o seu harém de belas garotas.
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