domingo, 2 de maio de 2010

Elvis não morreu!

Elvis não morreu!

Sábado a noite dois caras vestidos de Elvis – Friends ForElvis - mandaram ver no Chaplin Snooker Bar, o último recanto noturno em Campo Mourão que ainda preza por música de qualidade e evita cair na mesmice das duplas sertanejas.

Os dois caras não estavam sozinhos. Contavam com uma banda fodástica - banda Power Tripa - que ajudava a recriar hoje toda a transgressão que foi o rock dos anos 60.

E, verdade seja dita, o ambiente era perfeito para um Elvis Cover. O Chaplin Bar é bar mesmo; balcão grande e comprido, mesinhas simples de quatro bancos baixos, um palco espremido contra a quina de duas paredes, e uma porção de mesas de sinuca – snooker, que seja.

O público também era notável e particularmente conivente com o ambiente elvístico que se estabeleceu. Para ser ter uma idéia, eu com meus 23 anos era um concorrente sério a ser o mais novo do lugar. Metade das pessoas que lá estavam tinham a idade que os legitimava a requebrar no Jailhouse Rock com toda a propriedade de quem certamente já dançou isso quando o Rei ainda era vivo - ou de quando se contava, tristemente, os primeiros cinco ou dez anos sem ele.

Mas o ponto principal é que Elvis não morreu.

Nas Ciências Sociais tem-se por clássico aqueles autores que sempre são boas fontes para se beber de possíveis interpretações da realidade atual; em suma, autores quase atemporais, pensadores de idéias com uma validade que cruza as décadas e os contextos. Talvez, no mundo da música, um clássico tenha definição parecida e derivada: aquilo que junta num mesmo lugar várias gerações e embala a todas num ritmo só.

E por isso Elvis é clássico, por isso ele não morreu.

Não só os cinquentões curtiram adoidados. Os mais novos – eu como testemunha viva – também. Os de quarenta, os de trinta, os de vinte anos, todos incondicionalmente rendidos aquelas músicas que arrepiam até a barba do rosto, parte pela melodia, parte pela voz inconfundível que o cover conseguia trazer de forma louvável.

Em tempo e em destaque:

Um rapaz e uma garota, deviam ter também uns vinte e poucos anos; ela com uma maquiagem pesando sobre os olhos, maquiagem preta como o vestido, a luva, a bota cano alto e a meia-calça, daquele jeito gótico; ele, o rapaz, lembrava seriamente Kurt Cobain em todo seu ar grunge de calça jeans desbotada, all-star rasgado, camiseta surrada e cabelo ensebado que chegava nos ombros. Bati o olho neles e pensei que estavam perdidos, deslocados algumas décadas em relação a banda cover que estava tocando. Ledo engano. Bastou tocar It’s Now or Never para os dois mostrarem que estavam onde queriam estar. Colaram as testas juntando os olhares numa intimidade indecifrável, balançaram como se ensaiassem dançar coladinhos, sorriram pela tentativa frustrada mas apaixonada, e então encaixaram seus corpos naquele abraço perfeito, a vácuo de tão próximos, como se entrassem no peito um do outro, e se deixaram levar pela música. Certamente optaram pelo agora.

E isso porque Elvis não morreu.

4 comentários:

  1. César, em nome dos ELVIS que cantaram no Chaplin, agradeço imensamente tua presença no "Friends ForELVIS", e as belas palavras com as quais brilhantemente traduziu nosso sentimento em relação ao Rei!
    Parabéns pelo blog!

    Forte abraço do MiguELVIS

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  2. Oi César, o MiguELVIS já disse tudo, me resta só agradecer. Incríveis seu feelin' e perspicácia no trato com as palavras e emoções. Você descreveu com maestria a atmosfera que se estabeleceu no Chaplin na noite do show, me sinto profundamente grato pela sua presença e fortemente tocado por seu texto. Muito obrigado!

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  3. Cara, quem sabe o que é boa música e preza pelo rock and roll não poderia deixar de parabenizar o show e o blog.
    Infelizmente não pude ir ao show, mas conheço os dois Elvis como ninguém, sou amigo pessoal deles...
    Um grande abraço

    Valker

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  4. Agradeço ao Miguel e ao Fausto por terem passado por aqui e apreciado meu modesto texto. Mas o crédito é todo de vocês, afinal, só escrevi sobre o que vocês conseguiram causar em todo mundo lá no Chaplin - e causaram de verdade.

    E obrigado Valker pelo comentário! Se conhece eles, sabe que perdeu mesmo um baita show.

    Valeu gente. Sucesso e vida longa ao rei!

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