Sou do tipo de pessoa que chora fácil, fácil. É um treco de família, desconfio, herdado do lado materno, donde as lágrimas vertem facilmente. E isso gera muito desconforto, principalmente quando seus irmãos, ambos mais velhos, inexplicavelmente não tiveram a mesma bagagem herdada – 'mas é um fresco mesmo', disse um deles quando me surpreendeu de olhos marejados assistindo Menina de Ouro.
Mas o histórico de choros e gozações é de longa data. Tão longa que atribuo um ou dois traumas de personalidade - talvez mesmo uma terapia futura - às sacaneadas de meus irmãos sobre minha suscetibilidade emotiva diante de filmes. Família é mesmo uma coisa que marca a gente.
Bem, tempinho atrás eu conversava disso com meus irmãos, quando lembramos da primeira vez em que chorei horrores. O filme era As aventuras de Chatran. Até onde sei e pesquisei, foi tipo um clássico da Sessão da Tarde lá do início da década de 90. O filme conta a história dum gatinho que perde-se da mãe e vai errando por esse mundo afora enfrentando perigos e enrascadas. Eu, quando assisti isso pela primeira vez, talvez lá com meus cinco ou seis anos, chorei já quando o gatinho perdeu-se da sua mãe – numa cena pungente em que um rio, muito metafórico aliás, leva o bichano para longe de seu mundinho acolhedor e seguro. Pois é. Chorei e meus irmãos riram até.
Mas a história ficava ainda pior: lá pelas tantas, o fiel amigo de Chatran, um cãozinho chamado Puski – que correra feito louco o filme inteiro atrás do seu amigo felino -, bem, esse cachorro, dedicado e fidelíssimo, é trocado por uma gata! O malandrão do Chatran esnoba seu amigo só porque arranjou uma gata para si. Com meus cincou ou seis anos, isso já foi sacanagem o suficiente para chorar mais e em plena revolta. E meus irmãos rindo até.
O fato foi que cresci sem ver o final de As aventuras de Chatran. Ou se vi, esqueci. Meu consciente bloqueou até mesmo o nome do filme, só saindo da obscuridade do inconsciente durante a referida conversa com meus irmãos.
Num final de semana em que fiquei sozinho em casa, enfrentei esse desafio e loquei As aventuras de Chatran. Claro que eu tinha que estar sozinho pois sabe-se lá quando as lágrimas verterão, não é?
Mas que decepção. Primeiro que o filme é bem tosco e disso eu não lembrava. Quer dizer, para crianças é bonitinho, com exceção de uma ou outra parte em que os animais são mal-tratados descaradamente (no final o filme não pode, de jeito algum, dizer que 'nenhum animal foi machucado durante as gravações'!). E segundo que nem de longe reviveu qualquer sensibilidade aqui dentro.
Eu achava que seria um momento catártico. Pensei que despejaria litros de emoção represados pela sociedade machista tão bem personificada em meus irmãos durante nossa infância. Pff, que nada.
No mais, resolvi uma pendência cinematográfica de meus tempos de criança, o que já conta. Existem outras dentro dessa temática. Por exemplo, nunca assisti Bambi nem Rei Leão – suspeito que por isso não fui tão normal quanto as outras crianças da minha geração. Mas assistirei em breve. Tão logo fique sozinho em casa novamente. Afinal, nunca se sabe quando os olhos vão me trair.
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