domingo, 1 de maio de 2011

Sem volta

Sentia a urgência em dizer algo. Não dava mais para calar. Mediu duas ou três frases até encontrar a precisão. Chegaria no ponto. A síntese da intenção. Esperou a oportunidade, e quando veio, respirou fundo. Mirou e disse. Disso tudo em pouco. Atirou.

Mas as palavras não prometiam sair assim, tão duras e secas e frias. Só que saíram.

Sentiu pressa em desdizer. Tinha que voltar a calar. Agarrou o silêncio em busca do esquecimento. O tempo chegaria. Tinha de chegar. E iria gastar, deteriorar o som. Pastoreadas pelo tácito, as aparências voltariam.

Mornas, úmidas, escorrendo por tudo, palavras pintadas voltando para casa. Fantasia de carnaval que retorna suja. Batida, reprovada, rasgada. Mas retorna. Remenda-se.

Só que as palavras tinham saído. E ao saírem foram com a decisão: nunca mais voltariam.

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