sexta-feira, 6 de maio de 2011

A véspera

O melhor é a véspera, não aquilo por que se espera. Algo, alguém, uma coisa, um dia; podem ser bons enquanto acontecimento, mas o melhor, sempre, é a véspera, o por vir.

Não a espera longa e chata, apenas o instante em que já se vê, num horizonte que não existe, a proximidade do que aguardamos. É a melhor hora, o instante máximo.

Na exata antecedência nada pode dar errado. E tudo é. O que você quer, tem. O que você espera, acontece. A mudança, sofrida, ali é bobeira dada de mão beijada. Só na véspera tudo é.

E a chegada em nada supera a espera do que chegará.

Início é só eufemismo traiçoeiro para decadência irreversível. Depois que vem só há o caminho da partida – doa o quanto e a quem doer. Somente o esperar é chafurdar no prazer imperturbável da imaginação.

No etéreo lugar que antecede a vida, me avisaram: você vai viver. Que alegria fui. Farei, direi, conhecerei, serei, ah, tantos verbos no futuro! Foi aí que descobri que véspera é sinônimo de futuro. Mas então nasci. E sem surpresa chorei a plenos pulmões: era o início.

(Subjetividade espirrada numa confusão verbal só para dizer quão agradável é andar pelas ruas na véspera do Dia das Mães. Já é noite e o comércio continua a todo vapor, as sorveterias contaminam transeuntes desprevenidos com aroma de baunilha, e as lanchonetes são risos amigos. Dá vontade de andar por aí até enjoar – uma hora enjoaria, mas valeria a pena. E para o sucesso da véspera, segunda-feira tudo volta ao normal).

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