Acho bacana quando os escritores, dentro de suas ficções, tentam nos trazer conceitos. Algo próximo de ideias e definições que ampliam as categorias de percepção de mundo e de Homem.
Lendo Jovens de um novo tempo, despertai!, de Kenzaburo Oe, me deparei com um desses conceitos. E como todo bom conceito cunhado por um bom escritor, é apenas a verbalização duma experiência corriqueira que, por mais que todos a provem, acaba passando despercebida de nossas mentes embotadas pela rotina.
O tal conceito é o de leap, ou, traduzindo do inglês, salto. Com essa palava o autor refere-se àqueles impulsos que nos acometem às vezes e se traduzem em comportamentos estranhos; aquilo que você faz e não acredita que fez. Coisinhas que desviam tua vida do rumo normal – ou, na provocação de Oe, podem na verdade estar constituindo sua vida.
Em suma, leaps são aqueles momentos inusitados em que você realiza uma ação, boa ou má, e depois, já efetuada, praticada e provada em suas consequências, você se pergunta francamente: caramba, como é que eu fiz isso?
Eu fiz isso? Como? Onde é que eu estava com minha cabeça?
Sim, existem os leaps alcoólicos... Mas não só. É algo mais.
Leap é uma surpresa com você mesmo. Pois é um comportamento próximo do modo automático, uma alienação de si; você não tem consciência, apenas vai lá e faz. Pronto. Provavelmente você não conseguirá nunca mais reencontrar aquela inspiração filosófica e moral que sustentou tua ação durante um leap.
Algo inexplicavelmente do momento, e efêmero como são todos os momentos.
Gostei tanto da ideia que fiquei matutando... E os meus leaps? Desvios do rumo normal ou a síntese do que sou hoje?
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