A chama da luz
apaga-se
numa muito mais alta
chama de escuridão
Gösta Friberg
Dificilmente compro livros aleatoriamente. Quer dizer, se vou num sebo, vou já predisposto a comprar um autor ou um título em especial. Sou conservador pacas para essas coisas e pouco arrisco.
Mas a exceção foi feita.
21 Poetas Suecos chamou a atenção. A Suécia é um daqueles países que são distantes o suficiente para que quando você encontre algo da Suécia você se surpreenda e faça perguntas bestas tipo nossa, tem poetas na Suécia? É um tanto óbvio que exista, mas até encontrar prova impressa a gente sempre fica em dúvida.
Enfim, comprei o livro. É o resultado de um encontro literário entre portugueses e suecos, lá em Estocolmo, nos idos de 1980. De editora portuguesa e tudo. Em suma, um treco meio louco. Louco, inclusive, porque isso estava jogado em um sebo no centro de Curitiba.
Seja como for, os poetas suecos mandam bem. Certamente algumas metaforas e outros recursos subjetivos perdem o sentido – eles tem uma tara com águias, raposas e alces que não dá para entender -, o que é normal. Tão certo quanto isso é também a perda de outros recursos poéticos na tradução sueco-portugues, mas ainda fica interessante.
É curioso ver como as questões sociais aparecem em poesias de países ricos, reclamando não da miséria mas sim da alienação cultural proveniente da bonança. Ah, e tem uns poemas depressivos pra burro, de dar inveja aos nossos poetas que morriam tuberculosos e boemios antes dos 25 anos. E que também reforça mesmo a impressão de que certos sentimenos são mais universais do que pensamos, cabendo ao poeta dar-lhes forma e vazão.
Bem, assim sendo, foi uma boa aquisição.
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Rua de Estocolmo
Uma simples menina
uma outra cidade
e um outro quarto
numa outra casa
onde nunca se viveu
e outras esquinas
onde nunca se ficou
e nunca se esteve à espera
de alguém –
Uma simples menina
com uma outra linguagem
e uma outra perspectiva
de sua única vida –
Um outro trabalho
e um outro nome
e outras ruas para ir
outras ruas para ir
outras para perseguir
o que a gente nunca pode
conseguir –
Gunnar Ekelöf
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